Em redor da minha pintura…

As portas são como convites à viagem.

Em algumas das minhas pinturas, essas aberturas são possibilidades.

Portas, janelas para outros, restituem o que não pode estar na tela.

Olhares cruzados. Oferecendo ao leitor uma soma de propostas com a qual poderá, ou não, fundir-se.

Atalho num mundo imóvel.

O livre arbítrio é o sentido primeiro.

Oferece-nos esta escolha para que o mundo,

e os nossos hábitos não sejam fisgados.

Uma resposta possível para cada coisa.

Uma solução para qualquer caminho tomado.

Sucessão de passadeiras. Cada uma das etapas é essencial.

Cada porta dá(-nos) acesso à etapa seguinte.

Ousar empurrar a porta para ver mais além.

Estar pronto a despojar-se das certezas, a fim de ultrapassar a nossa condição.

Recusar a abnegação. Questionar os valores (o referencial) atuais (atual) e ir sempre em frente. Não se perder nas trevas, ou no conforto da vida presente.

Procurar na noite esse ponto de luz, por vezes tão pequeno, que iluminará a nossa vida.

Surpreender-se a gostar do que não se apreciava por falta de conhecimento.

Abrir-se a novos horizontes para melhor enriquecer.

Até surpreender-se. E reconstruir-se sem cessar.

Porque ultrapassar-se é tudo sublimar.

Mas o que é feito da chave? Pois é mesmo disso que se trata.

Nenhuma é universal. Cada porta tem a sua própria chave.

Cada passagem permite encontrá-la, se nos concedermos os meios.

Para isso, é necessário despojarmo-nos da nossa materialidade.

Rejeitar os “bem pensantes”, aceitar o outro com a sua diferença, e ir adiante.

 

DK