Cidade luz, cidade mistério. As suas ruelas escarpadas, os seus telhados de ardósia, as suas fachadas alaranjadas. Ao ritmo das estações, os tons matizam-se. Mas Paris é antes de mais os seus habitantes. Todas as profissões coabitam. E se a época contemporânea se reveste ao longo de todo o ano de cores baças, assim não foi noutras épocas. O final do século XIX e o início do século XX têm a minha preferência. E é bem esse período o mais prolífico: as artes, a medicina, as técnicas… Tudo explode, tudo renasce. Ousa-se e põe-se em causa, inova-se, reestrutura-se. O que estava fisgado em nome da moral, do «academismo», e dos valores religiosos torna-se tema de interesse… Tudo é possível. Tudo está por fazer…As grandes correntes de pintura estão em gestação e nascem: Impressionismo, Fauvismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo. Do Aduaneiro Rousseau a Picasso, passando por Toulouse Lautrec, Manet, Monnet, Bazille, Caillebotte, de Cézanne a Chagall, de Soutine a Dali, de Klimt a Ernst. E tantos outros. Paletas vivas marcando uma época na arte, na literatura, na arquitetura…Tudo está em movimento. Mesmo se a vida não é fácil, o que amo são as cores que fazem nascer esse universo de bem-estar. A Ópera «A Boémia» de Puccini mostra-o bem. É por isso que esse período é único. Passeio nessa cidade de mil rostos. Cada fachada de prédio, cada bairro revela histórias e anedotas que fazem todo o charme. Do Marais, às margens do Sena, de Ménilmontant à Butte des Cailles, do Père Lachaise à Nation, dos perfumes de 12º bairro ao Parque Montsouris, a deixar-se levar, entraríamos no filme de Woody Allen, «Midnight in Paris» («Meia noite em Paris»). Essa cidade que me viu nascer e crescer…A despreocupação de uma época, perfume de um tempo onde era bom viver…Como uma libélula pousada num ombro. D.K.