O que de mais neutro que um espaço objetivo? Tudo parece pousado ali, ao abrigo dos olhares. E, contudo, nada é deixado ao acaso.
Subjetivo é o interior desse espaço que construímos à medida do tempo, testemunha da nossa vida. Prolongamento das nossas emoções, de tudo o que nos faz renascer.
É o reflexo de nós mesmos, e da nossa capacidade em transformar as provações.
Fechamento como nessa aguarela «Um crocodilo debaixo da minha cama »*, onde a criança é tomada como refém pelo seu sonho. A nossa interioridade reflete o nosso modo de movermo-nos, de comovermo-nos.
Os efeitos de perspetiva jogam a tradução das emoções que nos transbordam. Essas fendas, essas quebras de espaço são outros tantos meios para dizer uma ansiedade, um mal-estar, assim como um bem-estar ou uma plenitude.
Como uma visão fotográfica, em anglo alargado apanhado de cima.
É o outro lado do espelho, um mistério a elucidar, um mundo com uma dimensão diferente e que, na sua interpretação simbólica, não é mais do que uma transição em direção ao homem realizado.
Uma vez que terá avaliado a distância do caminho a percorrer.
A cor joga com o interior. Pois a mesma visão traduzida sob um prisma diferente, como na tela «La vie… Valdi», transporta-nos para universos diferentes.
E a porta, sempre essencial, informa-nos nessa escapatória.
Convidando-nos a cruzar as soleiras, como que para separar-nos dos espaços exteriores, do Outro também, são à imagem dos livros: «abrimo-las, fechamo-las, atravessamo-las em todos os sentidos, e descobrimo-nos então, tal Ulisses, envolvido numa maravilhosa odisseia, mergulhado no coração da humanidade, no coração mesmo da nossa humanidade”. (Catherine Montluc).
Nesse interior, jogo de corre-corre, regador regado, o quid da galinha e do ovo, um caminho de luz, desenha-se, no entanto, como uma linha de fuga. Onde a chave se perfila.
D.K.
*No francês original lê-se “Un crocodile sous mon lit” -Nota do tradutor.