Porquê pintar a natureza circundante?
De facto, quando se teve como predecessores tantos nomes dos quais citarei apenas alguns, ao acaso, temendo esquecer uns quantos, Cézanne, Monet, Renoir, Van Gogh, Seurat, De Vlaminck, Matisse, é difícil abrir caminho por entre tantas paisagens que nos tocam, que nos interpelam. Pois é bem disso que se trata… Da emoção a transmitir ao leitor. Sentir a brisa suave, o calor ardente, a doce quietude, toda a espécie de sensações que o universo nos oferece. Para estes primeiros passos em Portugal, de forma muito modesta, quis testemunhar um bem-estar, como um aflorar do lugar. Sem domar o tema, quis trazer uma pequena contribuição a estes lugares que me transportaram como uma carícia. «Les Jardins Gulbenkian» («Os Jardins Gulbenkian») trazem-me a meditação que tanto prezo. Onde sinto como que um desprender, uma espécie de diletantismo despreocupado, onde, em parcos traços, a minha alma transborda. Onde me sinto bem. Como dizer… Como se o tempo fosse inexistente. Uma maneira de sublimá-lo. Parêntese de cores. Neste «Oh tempo suspende o teu voo»* de Lamartine, encontro toda a nostalgia para apreender melhor os meus temas e para deixar o meu lápis percorrer a folha branca. Só felicidade! Esta tela que leva o seu nome para testemunhar dessa doce quietude. «Estufa Fria», como uma bolha de oxigénio, onde me compraz sonhar. Onde reencontro uma sensação de serenidade. «Brazil», a árvore dos pássaros… fez-me sentir melhor a poesia dos quadros do Aduaneiro Rousseau. O Jardim Botânico de Lisboa. Outra escapadela que me faz esquecer as imediações da cidade e a magia do Príncipe Real. Não falarei de Sintra que me seduziu e de tantos outros lugares por descobrir. Nem dos pequenos portos de pesca que relembram os escritos de Pierre Loti. Outros tantos temas a abordar. Para a série das papoilas que incluí nesta parte, ou ainda «Derrière le paravent», ou mesmo « Le jardin de l’imaginaire», quis pintar o anúncio da primavera. A metamorfose da natureza. E o que faz a transformação da nossa maneira de ser. Mais serenos, como se nos fundíssimos nesta natureza e sentíssemos o nosso corpo mais à sua escuta.
D.K.